Olho para a fotografia, velha, antiga…vejo tantas expressões. Como foi possível seres maior que o meu corpo?
Encosto-me a parede, algures…vejo uma sombra, um contraste entre mim e a luz do dia que atravessa inteira e densamente a janela coberta de um vidro frágil e incolor….
Também um dia eu fui assim, como esse vidro. Transparente, frágil.
Mas agora sou mais um diário, preso num momento por concretizar…num espaço que talvez um dia tenhas idealizado na tua cabeça. Mas não agora. Um dia certamente, olharas para o passado, e veras que ficou tanto por dizer…e que as palavras eram tão poucas, tão complexamente simples. Vais ver, que entre os nossos silêncios, algo se perdeu, algo de comum, algo inexplicável.
Olho para todos os lados, mas não estas.
Saíste para a rua, mesmo estando ela afectada com toda a tempestade e chuva. No teu pensamento, permanecia eu naquele quarto….mas nunca me encontraste realmente.
Eu fiquei, sempre quieto, imóvel. Quando saia a rua, aparecias tu naquele quarto, sentavas-te, sentias o meu cheiro, o meu calor…lembravas-te que algum dia foste passear comigo de mão dada.
Hoje não. Hoje foste passear e deixas-te em mim o teu toque sereno. Ele reconforta-me, mas diz-me que te perdi. Grita que um dia um de nos desapareceu, algo que prometemos não fazer. Prometemos deixar para trás tudo, o tempo, as diferenças físicas, as diferenças mentais…os preconceitos.
Juramos nunca sucumbir, nunca ficar, nunca ir.
E não fomos, nem partimos. Ficamos, ate onde deu. Lutamos, ate que o sangue caiu pelo chão. Ate que a respiração foi cortada pela distância.
Sento-me no chão, ensanguentado… mexo no sangue. Sinto-o arder na minha mão, sinto-o ficar, em mim…deixando as minhas impressões digitais sem resposta.
A culpa nunca foi tua…e eu culpei-te tanto por nao teres ficado. Tive tantas oportunidades para te compreender, mas perdi-me algures a compreender-me a mim. Esqueci-me do que éramos, da dependência que tínhamos.
Talvez a vida, faça o nosso sangue se juntar…no segundo em que trocar-mos um olhar.
Talvez o fogo consiga renascer, quando nas pequenas brasas dos nossos lábios nascer um beijo.
Talvez…a eternidade exista afinal.
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