Palco de mim

Calei-me em muitos momentos inoportunos. Sufoquei-me na doce ilusão de uma pequena brisa de verão que entrava por uma janela quebrada, rasgada, perdida em tempo algum.
Contracenei com atitudes de criança. Actuei perante uma plateia nua de identidades e preconceitos.
Ah! Como foi bom exprimir-me na berrante ironia dos meus sentidos. Fiquei apenas eu, perdido e incompleto, numa guerra travada sem sangue. Dela resultou a minha autodestruição, a minha morte esgotada num pequeno grão de areia. Mas a minha vitória, não é feita de grandes coisas. É feita de coisas banais e indiferentes perante o mundo.
E qual é a minha intensa felicidade, senão ver aquele grão de areia, ser arrastado pelo mar. Ver a liberdade, por ele exprimida quando esvoaçava na cara do vento.
Sentir a sua alegria, quando abandona o seu porto seguro, em busca de uma aventura perdida, calada numa palavra. E quando abandono o palco, e se apagam as luzes, percebo que nada do que vivenciei era mais do que um sonho, um sufrágio cobarde, uma escapatória a anedota de tudo o que fui.
Como fui capaz de calar estar carta em mim?
Não sei, mas encontrei-a num recanto perdido e revelei-a agora para quem, um dia, sentir a necessidade de se refugiar numa letra, numa carta, escrita por fogo ou um vazio.
Espero que gostes e durmas, em cada parágrafo escrito por mim, nas linhas do teu ser.

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