Anseio abrir um pequeno baú que tenho. Julgo ter guardado nele o verão e o outono, a roupa e a nudez, a verdade e a vergonha, o erro e a capacidade de o aceitar . Queria ter guardado algumas fotos nossas , da nossa inocência, das nossas experiências, mas o espaço físico limitou-nos as perspectivas do real. Nele apenas consegui recortar algumas memórias que trazia nos bolsos. Tentei fazer algo belo delas, mas elas desapareciam no meu guarda-roupa. Cada vez que dou um passo sinto que elas se libertam e marcam um compasso inquietante rumo ao futuro. Queria puder desenhar, algures no céu estradas e caminhos, costas e mãos, mares e terras. Queria algo feito a fogo, algo que brilhasse no escuro, algo que se apagasse de noite, algo que pudesse imortalizar o trajeto da minha vida. Algo que nem a neve nem o frio pudesse aquecer...algo que nem o sol nem o toque pudesse arrefecer.
Quero abraçar o teu sorriso, escutar as palavras que nunca disseste, remar a favor da maré, correr contra a corrente.
Preciso, mais uma vez...sentir o ar prender-se nos meus cabelos, cortados de fresco como a relva graúda num jardim que imaginei algures, lá...naquele pequeno baú empoeirado, que reclama, que aprecia e exclama por toda a minha atenção recorrentemente.

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