Cubro-me com um cobertor, ouço umas músicas esperando que
estas me salvem do aborrecimento. Penso em ti, mas sei que possivelmente cai no
teu esquecimento.
Falta algo aqui, algo que possa acompanhar esta minha ilusão
nesta noite fria…As paredes brancas encolhem-se sobre os meus ombros...o relógio
faz o seu tic-tac habitual e este consome todos os segundos que penso em ti. De
que serve viver nas margens das memórias?
Tenho imagens que gostava de esquecer…tenho momentos que
queria ter continuado mesmo que essa oportunidade não me tenha sido concedida.
Tenho tanto para te dizer…mas não sei como expressar tamanha carga emocional. Tentei
fugir do teu fantasma, mas começo a aperceber-me que talvez esse fantasma seja
eu.
As árvores mexem-se com o vento, e a noite abraça a rua com
um abraço…
Os dias passam, e em breve vai amanhecer…e talvez nesse amanhecer
veja o que o futuro me reserva…e talvez use esse pensamento para me manter a deriva,
na esperança que estejas bem.
Aqui permaneço...imune ao tempo...e espero.
Continua frio,como ontem.
A luz entra-me pela janela...bate-me nos
olhos.
Fico quieto...não desejo despertar já...porque
sei que o coração vai adoecer com o tempo que não tenho.
Ouço, e vejo na janela palavras que nunca
disse...
Não sei mais como adormecer, como curar o incurável
ou encontrar felicidade nas coisas plenas da vida...existem dias assim.
E as memórias invadem os dias, como se
delas viessem as horas, e como se as horas viesse a solução para o problema que
não tenho.
E ainda assim espero...pelas respostas que não
quero...pelo sossego que a noite já me da...mas ainda assim sinto falta, de te
abraçar como sempre o fiz...de pensar em ti como se isso fosse motivo para me
manter acordado como sempre o foi.
A vela apaga-se lentamente, no entanto ainda
consigo apaixonar-me pelo que sempre conheci...pois no escuro tudo faz mais sentido,
porque o escuro não abriga os segredos dos teus olhos.
Ainda hoje me lembrei. Veio-me a mente, não tive como
evitar. Ainda o sinto, ainda o tenho, ainda o abraço entre os lábios. Apareceu,
numa sequência de eventos, e ainda bem que assim o foi. Tenho-o na memória,
tenho-o em mim. Deixou de haver presente ou futuro. O passado foi apagado desde
aquele momento. As minhas inseguranças mostraram-se sem fundamentos, as minhas
antigas experiencias vividas mostraram-me a diferença entre o puro e o falso,
entre a felicidade disfarçada, e a tristeza incapaz. Nunca pensei que tudo
fizesse assim tanto sentido, que tudo fosse assim tao simples…sempre tive tendência
a complicar tudo. Mas mostraste-me o oposto. Demonstraste que os simples
prazeres da vida podem ser aproveitados da melhor maneira…a distância de um
beijo, a milhares de quilómetros de distância, a centímetros de mim, a segundos
do coração. Não quero perder esta sensação de não habitar mais em mim. Por
vezes torno-me defensivo, inseguro, pensativo, pois sei que nem tudo vem para
ficar. Mas talvez isto seja diferente, não porque quero, mas sim porque é
mesmo. Talvez as coisas simples não tenham explicação, motivos, pressões
exteriores. Talvez algumas delas tenham defeitos, e mesmo assim decidi-mos
abraça-las juntos. E se poderá haver melhor recordação, maior sorriso, maior
felicidade do que aquele momento, aquele sentimento, simples, ainda por
descobrir do nosso primeiro beijo…não, não acredito que haja, porque desde ai
jogamos contra todas as probabilidades, contra todos os obstáculos, contra
todos os maus dias, contra todas as oposições. E o tempo passou…e aquilo que
diziam que ia desaparecer, cresceu. Expandiu-se de tal modo, que se tornou num
cometa, e que por sua vez se tornou na lua. Desenvolveu-se de tal forma que a
minha perceção de idade desvaneceu. Tornei-me uma criança feliz, como era
quando tudo esteve bem entre os meus pais. E agora não meço mais a quantidade
de metros que nos separam, nem a diferença nos nossos fusos horários…nem os
dias que faltam para chegares, porque me conforto com a simples resposta que
tenho em mim…que apesar de longe se te pedisse para ficares não hesitarias em
ficar do meu lado, abraçando o meu passado e os meus defeitos, mergulhando de
cabeça num novo futuro a dois.