Vícios

Queria que as palavras fossem suficientes para descrever tudo o que sinto.

Quero apanhar o comboio, senti-lo deslizar sobre as linhas como se delas dependesse o rumo das palavras.

Se soubesses metade da verdade que te contei, perceberias que tanto o papel como o metal se fundem da mesma maneira, que a verdade absoluta é tanto como o silencio de tanto que ainda não te falei.

Tantas questões...onde as respostas se refugiaram em ti, e onde neste momento, as tornaste inacessíveis a mim.

Queria apenas compreender o porque.

Adorava parar de brincar as escondidas, mas a verdade é que apenas eu me escondo agora que fugiste.

Era eu, que sonhava um dia escrever tantas letras quanto o tamanho do teu corpo, mas agora vejo que essas letras desapareceram, com o tempo,assim como todas as possibilidades que tive de te elogiar. Julguei que a vida que tivemos era apenas uma “folha” escrita no meu diário, que nada a poderia apagar um dia. Agora não sei mais em que acreditar, na verdade. Tentei ficar longe, mas simplesmente não conseguia...

Não era eu que controlava mais a minha cabeça, não era eu que me mantinha mais em pé. Não sabia ao certo, como poderia ficar assim longe de ti. Sempre julguei que a distancia aliviava a memória, que com todos estes quilômetros, de algum modo simplesmente te conseguisse esquecer.

Mas agora, cada vez mais...contrariamente a todos os meus sentidos e instintos, quero-te perto. Preciso de ti perto, acho que agora mais do que nunca. Nunca pude tentar manter alguém tão longe como te tentei manter a ti. Mas és um vicio, que me corre no sangue, algo que me fará alcançar a morte e a dependência em breve. Tentei, resistir, acredita. Porem as minhas forças físicas e mentais tornaram-se escassas perante ti. Agora, sinto-me em baixo quando não estas perto, sinto como se não fosse assim tão inocente como julgava. Tornaste-te um pecado na minha vida, uma ferida aberta onde apenas o teu toque a pode curar.

Es dona de tudo, da vida, da noite, do dia, da morte, da sorte, do azar, do mar...de mim.